Freud e Leonardo Da Vinci: a fantasia como lembrança e a obra de arte

Resumo apresentado na 12a Mostra Reginal de Práticas em Psicologia, promovida pelo Conselho Regional de Psicologia do Estado do Rio de Janeiro.

Em A interpretação de sonhos (1900), na obra inaugural da psicanálise, Freud recorre às tragédias Édipo Rei, de Sófocles, e Hamlet, de Shakespeare, para fundamentar a teoria da clínica psicanalítica através da formulação do complexo de Édipo como constituindo o núcleo das neuroses. Com isso, estabelece uma homologia entre determinados achados clínicos e a criação artística – no caso, literária. Villari (2002) distingue no remetimento de Freud à literatura duas vias ou métodos: a via aditiva, através da qual empreenderia uma espécie de análise psicanalíticas do autor, e a via extrativa, retirando elementos da obra literária para fundamentar a sua teoria da clínica. O autor destaca a impossibilidade de dissociar estas duas vertentes metodológicas de abordagem da obra literária por parte de Freud. Considerando a aplicação desta distinção às artes em geral, realizamos um levantamento e uma revisão bibliográficos dos artigos freudianos que tratam da arte, encontrando no ensaio biográfico Uma lembrança da infância de Leonardo da Vinci (1910) esta indissociabilidade. A partir do relato do mestre florentino de sua primeira lembrança de infância, Freud destaca determinados elementos biográficos de Leonardo e, articulando-os à pintura A virgem e o Menino com Sant’Ana ((1508-1513), sustenta a hipótese de que esta lembrança teria sido criada a posteriori, tendo sua origem em uma fantasia de caráter sexual, em cujo cerne se encontra a problemática edípica. Assim, a fantasia enquanto criação psíquica pode ser encontrada como representação pictórica na tela mencionada, caracterizando o móbil inconsciente da criação artística.

Psicanálise, Metodologia, Arte