O poeta e o psicanalista: a inquietante estranheza do duplo

Artigo publicado na revista Psicologia em Revista v.25, n.13

Este artigo pretende apresentar uma articulação entre psicanálise e literatura, partindo da premissa de que ambas têm como fundamento o campo da palavra e da linguagem, guardadas as devidas especificidades de cada um desses campos. Partiremos das próprias indicações freudianas contidas em duas cartas de Freud endereçadas ao escritor e também médico vienense Arthur Schnitzler, seu contemporâneo, para problematizar aquilo que aproxima – bem como disjunta - o escritor-poeta (Dichter) do psicanalista. Ao nomear Schnitzler como o seu duplo (Doppelgänger), Freud assinala a estranha familiaridade entre os procedimentos psicanalítico e literário. A fim de situar a questão, faremos uma breve incursão sobre a noção germânica de Kultur, que caracteriza o solo comum entre Freud e Schnitzler. Contudo, Freud se distancia da perspectiva contida na ideia de cultivo de si (Bildung), integrante da Kultur, ao introduzir, no seio da civilização, um mal-estar irredutível.

Psicanálise, Literatura, Cultura, Duplo